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Teresa Villaverde – 25 anos a fazer cinema

Foto © LEFFEST

Teresa Villaverde é realizadora, argumentista e produtora. Faz filmes há um quarto de século e é considerada um dos nomes mais importantes da geração de realizadores portugueses que surgiram na década de 90. O seu primeiro filme, “A Idade Maior” (em alemão “Am Ende einer Kindheit”), passa-se em Portugal no início da década de 70, um país marcado pela Guerra Colonial. Tem Maria de Medeiros, Joaquim de Almeida e Vincent Gallo nos principais papéis e estreou na secção Forum da Berlinale em 1991.  Os filmes de Teresa Villaverde têm passado por inúmeros festivais de cinema, incluindo Veneza (Três Irmãos”, 1994) e Cannes (os “Mutantes”, 1998).
Teresa Villaverde foi homenageada na décima edição do LEFFEST – Lisbon e Estoril Film Festival com uma retrospectiva integral da sua obra. Por ocasião do Festival, a Berlinda encontrou Teresa Villaverde após a projecção do seu filme “A Idade Maior” no Cinema Nimas e conversou com a realizadora sobre a sua carreira, que deve também um pouco a Berlim – e à Alemanha.
Teresa, pode contar-nos um pouco de como foi fazer sua primeira longa “A Idade Maior” e sua a relação com a cidade de Berlim?
O filme teve estreia mundial na Berlinale e deve também parte da sua produção à Alemanha. Tínhamos poucos meios para o realizar e, na fase da montagem, estávamos com dificuldade em acabar o filme porque nos começava a faltar dinheiro. A directora de fotografia (Elfi Makesh), que morava em Berlim, decidiu ir lá para conseguir fundos e levou 3 planos que mostrou à ZDF (Zweites Deutsches Fernsehen – emissora de televisão pública alemã). Eles ficaram interessados e vieram a Portugal ver a montagem que tínhamos feito até à data e acabaram por aceitar financiar o filme. Esta é uma visão um pouco romântica da realização de um filme, hoje não seria possível porque é tudo mais burocrático e é preciso passar por mais pessoas e processos para obter financiamento. Também fizemos a pós-produção do som na Alemanha, mais precisamente em Hamburgo. É muito difícil fazer cinema só com fundos portugueses.
Numa produção cinematográfica há certas áreas onde tendencialmente trabalham mais mulheres, enquanto outras são mais dominada pelos homens – nomeadamente a realização – que feedback tem enquanto mulher neste meio?
É uma coisa estatística, há muito mais homens a fazer filmes que mulheres. Ainda há muito a fazer em relação a essa desigualdade, talvez tenha a ver com o facto de nos centros de decisão para a distribuição de fundos também haver geralmente mais homens que mulheres. Uma coisa complicada no cinema é que é uma arte, mas que para a poder fazer é preciso passar um circuito competitivo. Nesse momento é que se formam as decisões de quem filma e quem não filma. Mas eu penso que há cada vez mais directoras de fotografia, por exemplo. Trabalho com várias mulheres em cargos técnicos que não escolho por serem mulheres, mas sim por serem as melhores.
Pode contar-nos um pouco como começou o seu percurso profIssional?
Não tenho formação de escola de cinema. Cheguei a ir para a República Checa, para a FAMU (Escola de Televisão e Cinema da Academia de Artes Performativas de Praga), onde estudou Kusturica, mas depois achei que o curso demorava muito tempo e acabei por decidir voltar para Portugal. Tentei começar a trabalhar e sabia que não tinha formação concreta na área, mas tinha vontade de fazer e experimentar. Já tinha experiência como actriz do filme do João César Monteiro (“À Flor do Mar”, 1986), que fiz enquanto ainda estava na FAMU, mas foi tudo um pouco acidental, tinha apenas 22 anos. Foi aí que encontrei a futura equipa que trabalhou depois no meu primeiro filme.  
Quis ser realizadora de cinema muito cedo e referiu que não teve medo de não conseguir ou de não a deixarem. Sempre foi assim tão determinada?  Que conselhos daria aos jovens cineastas portugueses que estejam neste momento com algumas dúvidas em relação ao seu futuro como cineastas?
Começar é sempre difícil para todos em todas as fases. Só vale mesmo a pena batalhar se se quiser muito ser cineasta, as pessoas não podem desistir nem à segunda nem à terceira. Eu vejo o cinema como uma arte e um artista não tem escolha porque é algo que faz parte de si. Eu senti logo que o cinema seria a minha linguagem, que seria a minha forma de me expressar. Por isso não me passou pela cabeça que não iria conseguir porque não me imaginava a fazer outra coisa. O que posso dizer aos mais novos é que tem que ser algo vital, pensar “sem isto não consigo viver, não sou eu”. Hoje em dia os que têm mesmo vontade de vingar no cinema podem usar o digital e juntar-se com amigos sem gastar dinheiro e acho que devem fazê-lo. Na minha altura isso não era possível e fazer cinema custava sempre algum dinheiro.
Um dos temas muito presentes nos seus filmes é a infância/crescimento. Pode falar-nos mais desta sua visão?
Acho sempre estranho como as pessoas conseguem separar o seu tempo de vida, dizer “quando era criança”… é quase como se nos fôssemos multiplicando. Acho que somos sempre as mesmas pessoas. A vida é um fio, vão acontecendo coisas que estávamos à espera, outras que não, e isso vai-nos construindo. Eu sinto-me a mesma pessoa. Não sei se já cresci tudo, mas essa é que é a parte interessante – estamos sempre a crescer e a aprender.
Teresa Villaverde tem um novo projecto em mãos: “Colo” que já está terminado e tem como protagonista o actor João Pedro Vaz. Tem também a participação de Beatriz Batarda e está previsto estrear em Portugal no início de 2017.  Despedimo-nos de Teresa Villaverde pouco antes de entrar para a próxima projecção de mais um dos seus filmes, desta vez “Três Irmãos”. Perguntámos rapidamente o que pensava de Berlim e quando lá voltaria, ao que respondeu: “É uma cidade muito viva, muitos artistas passam por lá e tenho muitos amigos em Berlim. Talvez em 2017 consiga ir lá por uns meses”
A Berlinda agradece mais uma vez a disponibilidade da realizadora Teresa Villaverde e a organização do LEFFEST que nos possibilitou este contacto.

  

 
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