top of page

MAGAZINE

Evento debate “dimensão-mundo” como traço da literatura de Cabo Verde

Foto: Os escritores Arménio Vieira (à esq.) e Filinto Elísio (à dir.) participaram do encontro, que contou com mediação e tradução de Barbara Mesquita. © Enio Moraes Júnior

A atualidade da cultura e da literatura cabo-verdiana esteve em debate na sexta, dia 16 de março, na Embaixada do Brasil em Berlim. Os escritores Arménio Vieira e Filinto Elísio participaram da conferência, cuja tradução e mediação ficou a cargo de Barbara Mesquita. O encontro foi organizado pela Embaixada de Cabo Verde em parceria com a Embaixada do Brasil e apoio d´A Livraria.

O escritor Filinto Elísio ofereceu a chave para entender o que se produz na literatura de sua terra. De acordo com ele, o que se faz hoje em dia em Cabo Verde é resultado da produção de uma país influenciado por uma “dimensão-mundo”. Segundo Elísio, esta característica não recusa as raízes e nem as identidades do país, mas vai além desses limites. “A crioulidade não é apenas enraizada. Ela é, sobretudo, risomática. Ela tem ramificações”, afirmou.

Elísio destacou que esta característica está presente na obra de autores cabo-verdianos como Arménio Vieira, José Luiz Tavares, Vera Duarte, Jorge Carlos Fonseca e Vadinho Velhinho, entre outros. O escritor observou que a obra de Camões já carrega muito dessse sentimento de universalidade, ao se deslocar não só espacial, mas também temporalmente. “A viagem que ele canta é uma ‘viagem-mundo’. Ela tem o mote poético, mas que é também o mote da planetarização”.

O próprio Elísio, aliás, merece destaque entre os autores cabo-verdianos contemporâneos cuja obra carrega marcas da “dimensão-mundo” referenciada por ele. A plateia presente no evento pôde perceber a relação entre a ‘crioulidade’ e a ‘planetarização’ de sua arte na leitura que ele fez, ao vivo, de poemas como Alvenaria e Lua.

 

Megalomania

Considerado um autor de repertório enciclopédico, Arménio Veira ganhou o Prêmio Camões 2009. No evento, ele leu trechos de sua obra, a exemplo Megalomania, para uma plateia atenta. Em conversa com o Berlinda, o escritor sinalizou que a “dimensão-mundo” influencia sua literatura, mas destacou a importância da cultura crioula nesse processo. “Nós temos uma língua materna, que é o crioulo, que é minha língua, onde eu nado como peixe”.

Professores, pesquisadores e leitores lusófonos de diferentes nacionalidades acompanharam a conferência. Além da embaixadora de Cabo Verde na Alemanha, Jaqueline Pires, estavam presentes representantes das embaixadas de Moçambique, de Portugal e do Brasil e representantes consulares. “Temos aqui a força da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e da língua portuguesa, que nos une, e cuja diversidade nos fortifica”, destacou a embaixadora.

Elísio convidou os interessados em conhecer mais sobre a literatura de seu país a acompanhar o Festival de Literatura-Mundo do Sal (FLMSal), cuja segunda edição ainda acontece este ano em Cabo Verde. Como síntese de suas palavras, acrescentou: “Eu terminaria minha fala dizendo que a literatura cabo-verdiana está muito bem, com muito boa saúde. Ela está no mundo, com o olhar aberto, porque é produzida tambem em um país-mundo”.

O Festival teve a sua primeira edição em Julho do ano passado, com curadoria do escritor português José Luís Peixoto, organização científica da editora Rosa de Porcelana e o apoio da Câmara Municipal do Sal.

 

  

 
Please reload

Enio Moraes Júnior

Enio é um jornalista e professor brasileiro que vive em Berlim desde julho de 2017. Na capital alemã, trabalha com produção de conteúdo online e escreve sobre estrangeiros que povoam as ruas berlinenses.

Please reload

bottom of page