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“Vazante”, de Daniela Thomas, na secção Panorama da Berlinale
Foto: "Vazante", Daniela Thomas © Ricardo Teles. Direita: Equipa do filme durante a conferência de imprensa ©Berlinda
A Berlinda esteve na conferência de imprensa do filme “Vazante”, de Daniela Thomas, no passado dia 10 de Fevereiro e teve a oportunidade de participar da conversa com alguns dos membros da equipa desta co-produção Brasil-Portugal. Presentes na conferência estiveram, para além da realizadora, Beto Amaral (argumentista), Luana Nastas (actriz), Adriano Carvalho (actor) e Sara Silveira (produtora).
O tema do filme é pesado e comum à História do Brasil e Portugal - a escravatura. “A história do filme vem de uma história de família, sobre um tetra-tio que casou com uma rapariga de 12 anos. Ele não usava sapatos”, tal como a personagem principal do filme, António, desvenda a realizadora. “Esta história fascinou-me e horrorizou-me. Perguntei-me muitas vezes desde criança: de que lugar eu vim?”. O tema da escravatura é um interesse antigo de Daniela Thomas, que explicou que o filme retrata o ano de 1821, o último ano do Brasil enquanto colónia Portuguesa e também a altura da escassez de diamantes, em que as grandes casas dos senhores já não possuíam tanta riqueza. O filme é a preto e branco, com direcção de fotografia de Inti Briones. “Vimos as sombras de cinzento na paisagem e pensámos logo que o filme teria que ser a preto e branco”, contou Daniela Thomas. “Apenas usámos fogo ou velas para fazer a iluminação do filme”, acrescentou.
“Eu sou fã dos seus filmes”, Beto Amaral
Beto Amaral referiu que a realizadora lhe pediu ajuda para a pesquisa sobre este tema, completado apenas em 2009. .O filme demorou 6 anos a ser escrito. Os dois estudaram antigas gravuras que representavam os escravos no Brasil, e Daniela Thomas quis dar-lhes vida. Para isso, incluíram no casting do filme pessoas descendentes de escravos, que vivem naquela região de Minas Gerais nas antigas casas coloniais, quase como se o tempo não tivesse passado.
“Fizemos tudo em 7 semanas”, Sara Silveira
A produção esteve a cargo de Sara Silveira, da Dezenove Filmes, que referiu que o processo foi complexo: “Procurámos durante meses o local ideal com a fazenda. Tinhamos muita pessoas envolvidas, actores, extras e animais”.
“Mais do que um filme, foi uma experiência de vida”, Adriano Carvalho
O actor português, que referiu que a sua personagem está ligada à definição de nação, de povo, explicou: “É sobre o que aqui estamos a fazer, das origens do Brasil e também sobre a história de Portugal ”. Segundo a realizadora, ele foi a sua escolha óbvia para o papel, após sugestão de Pandora da Cunha Telles, da Ukbar Filmes, a co-produtora portuguesa do filme. “Demorei um segundo para o escolher”, referiu Daniela Thomas. Adriano não hesitou em aceitar o desafio: “Vivi neste contexto de campo e pensei: tenho que fazer isto.”, contou. Sobre o facto de a sua personagem andar quase sempre descalça, afirmou “Senti-me conectado ao caminhar descalço, senti os elementos, o frio, o calor”.
“Nunca pensei que viria a estar aqui, nem conhecer todas essas pessoas maravilhosas”, Luana Nastas
A jovem co-protagonista brasileira, explicou que esta sua estreia absoluta no grande ecrã teve uma proporção bem maior do que o que alguma vez conseguiu imaginar. A actriz faz teatro e sublinhou o total apoio dos seus colegas mais experientes durante as filmagens, ainda que algumas vezes tenha sido trabalho duro: “Viver tão perto essa realidade (da escravatura) fez-me perguntar como o ser humano podia fazer aquelas coisas. Quase não conseguia acreditar como tudo isto aconteceu”, disse com emoção.
