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"Rise", curta-metragem de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

Rise (c) Barbara Wagner e Benjamin de Bu

11/03/2019

Foto: ©Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

“Rise”, é o mais recente trabalho da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, seleccionada no Berlinale Shorts. Mostra a ascensão de vozes e sub-culturas numa grande cidade e foi inteiramente rodado no metro de Toronto, Canadá.

 

Este contraste entre a acção que se passa debaixo da terra e a vontade de fazer erguer as vozes da periferia jovem da cidade tem a ver com a ideia de transição e de um espaço que não pertence a quem por lá passa. “A passagem para o espaço subterrâneo é exactamente isso - o subterrâneo não é um destino, é uma passagem, então nós meio que queríamos combinar a necessidade de resolver problemas deste grupo de jovens com o espaço, um espaço por onde eles passam frequentemente. Este é um novo metro que estabeleceu a ligação entre a periferia e o centro, por isso parecia fazer todo o sentido”. O metro está ainda novo em folha, o que contribuiu decisivamente para alcançar a estética particular de “Rise”. "Eu realmente gosto do facto de que o metro transmite um sentimento não espacial genérico, é o futuro, pode ser um aeroporto ou um centro comercial, pode ser qualquer coisa", arrematou Benjamin de Burca.

 

R.I.S.E. é o acrónimo de Reaching Intelligent Souls Everywhere e é nada mais nada menos que uma reunião de jovens formado por poetas e rappers às margem da sociedade canadiana e que vivem nos arredores de Toronto. Foi iniciado por Randell Adjei, uma das personagens do filme, há 5 anos.

 

Na sessão de perguntas e respostas após a curta, onde a Berlinda esteve presente, o realizador explicou ainda que a ideia para a curta “combinou muito bem com o que encontrámos no centro comunitário. As noites são organizadas por uma geração de canadenses, nascidos no Canadá, mas vindos de outros países e regiões como o Caribe ou a África. Não se sentem exactamente canadianos, mas também não têm muita relação com a sua cultura ou país de origem. Isso foi algo que nós achámos surpreendente. É um lugar incomum e contemporâneo para pessoas que não se sentem no direito de onde estão ou pertencem”.

 

Falou ainda do poeta Duke Redbird, que tem uma aparição importante no começo e no final do filme. “Ele também é poeta e é responsável pela Lei de Reconhecimento da Terra. No Canadá, está começando lentamente a assumir. Ele criou essa poesia e ela é falada antes de qualquer evento e iria - nós reconhecemos que esta terra não é nossa, é emprestada das futuras gerações e das crianças que estão por vir, então meio que cria um campo para todos que eles sabem que na verdade, eles não têm o direito de dizer "eu sou canadiano". Ele traz todas as pessoas ao mesmo nível - todos os imigrantes e todas as pessoas que nasceram lá. Eu acho que isso é essencial para o filme”, arrematou


 

Periferia de Toronto e a cultura à margem da sociedade

 

Benjamin de Burca explicou a motivação por trás do filme, bem como alguns detalhes sobre os seus participantes e a forma como os realizadores trabalharam para construir a narrativa. “R.I.S.E. é uma sessão de open mic (microfone aberto) que acontece às Segunda-feiras e se destina a jovens poetas da zona que lá podem ir declamar, cantar, o que seja que eles fizerem. Falam sobre educação por meio do entretenimento, o que nós também tentamos adoptar para o nosso filme. É uma coisa muito aberta, quem quiser participar pode fazê-lo”.

 

Estes encontros são tão abertos, que ambos os realizadores rapidamente criaram laços com vários dos participantes. O processo de filmagem desenvolveu-se quase naturalmente, assim como a escolha dos intervenientes. Benjamin de Burca revelou que “as pessoas que acabaram por participar no filme foram as que se mostraram mais interessadas, ou as que criaram mais afinidade connosco. Não fizemos um casting. O que fizemos foi um convite aberto através de Randell para os poetas virem e gravarem seus poemas connosco em estúdio. Isto foi antes de filmar, pelo que foi um processo inverso: gravámos primeiro e depois eles cantaram e sincronizaram as músicas, não obstante o lugar (estação de metro) estar cheio de barulho e anúncios. Foi um processo incomum para eles”.


 

Berlinale e visibilidade além-fronteiras

 

A dupla esteve presente na mesma secção de curtas no ano passado com “Estás vendo coisas” e em 2017 com “Terremoto Santo”. Numa curta entrevista para a Berlinda, Benjamin de Burca confessou ser “um ótimo sentimento ser selecionado para a Berlinale. Foi a sorte que nos mantive muito ocupados nestes últimos três anos”. Sobre o facto de a dupla ser habitué da Berlinale, disse ainda “Eu acho que o que é interessante no nosso trabalho é a maneira honesta como desenvolvemos as nossas relações com os artistas / temas dos nossos filmes. Os filmes podem ser muito diferentes entre eles, mas os processos são os mesmos. Esperamos que seja essa proposta que atrai as pessoas, porque é baseada na empatia, respeito e compreensão dos outros. Existe, acima de tudo, um forte desejo mútuo entre nós e os participantes de compartilhar uns com os outros e com o mundo, e isso nota-se nos nossos filmes”.

 

“Rise” ganhou este ano o prémio Audi Short Film Award no valor de 20.000 euros. “Nos três anos em que os nossos filmes foram selecionados para a Berlinale, abriram-se as portas para muitos outros festivais internacionais, o que dá muita visibilidade ao nosso trabalho. O prémio da Audi é, de facto, o primeiro prêmio que recebemos fora do Brasil até o momento. Vai ajudar muito a continuar a desenvolver nossa abordagem para fazer filmes”, explicou também.

 

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca têm já em mãos um novo projecto, que será de novo filmado no Brasil, mais concretamente em Recife. “É um filme sobre formas de dança diferentes, mas conectadas, que estão em disputa por espaço e visibilidade, que surgem das pressões de tendências e demandas que mudam rapidamente. Vamos apresentá-lo na Bienal de Veneza deste ano enquanto artistas representantes do Brasil”, terminou por contar o realizador.

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