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Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing  | Entrevista

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15/07/2019

Foto: ©Promo

A Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing é uma agremiação cultural fundada no ano 2012 por jovens artistas do Bairro Polana Caniço, em Maputo, ganhando seu reconhecimento jurídico no ano 2018. Este bairro já foi considerado um dos bairros mais violentos da capital Moçambicana, onde as crianças cedo enveredam por uma vida de delinquência juvenil. Assim, a Associação Hodi veio proporcionar o “resgate” de várias crianças através da arte e cultura. É uma iniciativa dos irmãos Elias e Augusto Manhiça e de Eugénio Macuvel, que se encontrarão em Berlim no fim-de semana de 20 e 21 de Julho para ensinar alguns dos ritmos moçambicanos mais dançáveis nos seus workshops na Swingspiration em Kreuzberg (Körtestr. 10 , 10967 Berlin)

 

“Notamos que as atividades tornam as crianças mais saudáveis. Estas performances são uma parte importante do desenvolvimento dos jovens, uma vez que aumentam a sua autoestima, conseguem representar as suas raízes históricas e ganham o respeito da família e da sociedade”, explicou, à “Somos!”, Augusto Manhiça. “Escasseiam os transportes escolares, há falta de material didático e as infraestruturas das escolas são débeis. As crianças do nosso bairro só têm cerca de 3 a 4 horas de aulas diárias, e depois? Estas dificuldades podem ser minimizadas através do nosso programa. As crianças na nossa associação também aprendem sobre respeito mútuo, a igualdade de género, saúde sexual e como evitar o consumo do álcool e drogas,. Há toda uma componente pedagógica que queremos incutir no seio dos mais novos”, referiu ainda. 

 

Os gémeos Manhiça têm ainda a Banda Hodi, parte das várias ramificações da Associação Cultural Hodi, um agrupamento musical composto por seis elementos, que faz fusão de instrumentos tradicionais de Moçambique com instrumentos convencionais., tais como: timbila, nhatiti, mbira, toges, viola baixo, guitarra, congas ou bateria. A Berlinda falou com Elias Manhiça, que nos explicou um pouco mais da história da associação e garantiu que os workshops em Berlim serão de “muita dança, muitas histórias de África, muita boa música tradicional de África e Moçambique em particular e muito amor.”

 

Primeiramente, pode falar-nos um pouco mais da Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing e do trabalho desenvolvido por vocês com as crianças?  

A Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing trabalha nos campos de pesquisa, preservação e divulgação da cultura e arte moçambicanas no domínio das danças, instrumentos e ritmos tradicionais de Moçambique, assim como das danças do género Swing. A Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing é composta por cerca de 60 artistas divididos em subgrupos, destacando: Companhia Sénior, Hodi Júnior, Banda Hodi e Makwaela Hodi . A Hodi Júnior é a componente infantil que desde 2012 tem movimentado cerca de 200 crianças através da sua inserção em actividades recreativas educadoras através da dança e música no Bairro Polana Caniço. Anualmente temos um programa infantil recheado de muitas actividades culturais que vão desde o Campeonato de Lindy Hop envolvendo cerca de 70 crianças provenientes de 5 bairros da Cidade de Maputo. Este projecto está inserido no Intercâmbio Internacional de dança denominado Mozambique Afro Swing Exchange . O “Mês do Frankie Manning”é uma actividade que a Associação Hodi tem realizado anualmente no mês de Maio com o intuito de celebrar os feitos do Embaixador do Lindy Hop Frankie Manning. A edição do ano em curso contou com a participação de 150 crianças. A festa do final do ano é uma outra actividade que marca o encerramento das actividades infantis. Nesta actividade temos contado com apoio do Frankie Manning Foundation e pessoas singulares através da oferta do material escolar para crianças necessitadas do nosso Bairro.

 

Em 2013 já tinham criado o grupo "Crianças da Paz". De que se trata exactamente esse projecto?

Crianças da Paz foi o nosso primeiro grupo e foi fundado no dia 27 de Fevereiro de 2003 com objectivo de criar espaços recreativos para os adolescentes do bairro, este grupo foi fundado pelos Gémeos Manhiça, Eugénio Macuvel, Inácio Ubisse, Manuel Manhiça entre outros. Música, dança e Teatro eram as principais actividades do agrupamento.

 

E quando é que a música surgiu nas vossas vidas?

A música surgiu nas nossas vidas quando tínhamos por aí seis a sete anos de idade. Nossos irmãos mais velhos eram executores da Dança Makwaela e nós assistíamos sempre no quintal de casa e daí surgiu a ideia de dar continuidade a práticas deste género de dança.

 

Quais as vossas principais influências musicais?

As nossas influências musicais são os ritmos tradicionais do continente Africano. Estilo como Marrabenta de Moçambique, Zulu dance de RSA, Mbira do povo nhúngue e shona, Mapiko dos Makondes de Moçambique e Tanzânia, instrumentos míticos como Timbila, Kora, Ngoni, Djembe, Xigovia entre outros.

 

A Banda Hodi, que faz parte da vossa Associação Cultural, tem cada vez mais popularidade em Moçambique. Quais são os próximos passos na vossa carreira musical (concertos e workshops)? 

Os próximos passos da Banda Hodi são a gravação do primeiro CD de originais. E em agenda temos a realização do concerto “SIZODIVANA MASX 20” dia 5 de Setembro de 2019 na sala grande do Centro Cultural Franco Moçambicano em Maputo, bem como a preparação da participação no Mozambique Afro Swing Exchange, evento a decorrer em Maputo de 9 a 15 de Março de 2020, e uma possível digressão pela Europa em 2020.

 

Estão em tour europeia e passaram já por França e Bélgica. Como surgiu a vinda à Alemanha?:

A nossa vinda a Alemanha integra-se na realização de workshops de danças tradicionais de Moçambique e Afro Swing em 10 Cidades Europeias. Os convites são formulados por Associações de dança e produtores.

 

E como surgiu a possibilidade de dar este workshop na cidade de Berlim?

No ano de 2018, aquando da realização da nossa primeira digressão pela Europa e Ásia, fomos convidados a dar aulas em Berlim por alguns dos participantes da edição 2018 do Mozambique Afro Swing Exchange em Maputo. Após o workshop, a organização voltou a formular mais um convite para este ano.

Rita Guerreiro

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Licenciada em Audiovisual e Multimedia pela ESCS – Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa), chegou a Berlim em 2010. Depois de ter participado em vários projectos de voluntariado e iniciado o Shortcutz Berlim, juntou-se à nova equipa Berlinda em 2016 e é desde então editora do magazine, para o qual contribui com vários artigos e entrevistas. 

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