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"A Gaiola Dourada" / "Portugal Mon Amour" I Opinião

Foto: Portugal Mon Amour © Divulgação

Hilariante e inteligente, “Portugal, Mon Amour” é simultaneamente uma homenagem ao emigrante português e o reconhecimento das tradições portuguesas como identidade nacional.

Maria (Rita Blanco) e José Ribeiro (Joaquim de Almeida) são um casal de portugueses emigrantes em França há cerca de 30 anos. Ela trabalha como porteira num dos melhores bairros parisienses e ele na construção civil. Quando lhes chega uma carta com a notícia de que receberam como herança a quinta da família o que lhes permite realizar o tão sonhado e longínquo regresso a Portugal parece-lhes tudo, durante uns segundos… perfeito. Mas, antes que eles próprios o possam contar, a notícia espalha-se como um grande segredo entre os seus amigos, vizinhos e empregadores que tudo fazem para que eles não queiram partir, reconhecendo assim o que eles conseguiram construir durante todos esses anos.

Intrinsecamente português, "Portugal, Mon Amour" é, antes de tudo, uma brilhante e inteligente comédia que consegue combinar humor contado a um compasso perfeito com referências culturais. Assim, o que pode parecer à partida uma forma de nos roubar uma gargalhada acaba, no entanto, por se revelar algo mais profundo: faz com que a população portuguesa olhe, de forma saudável, para os emigrantes e o que eles transportam consigo mas também faz com que os habitantes que os recebem tenham que lançar-lhes um olhar um pouco mais demorado, numa tentativa de perceber afinal quem é que eles são e de onde vêm.

Ruben Alves, realizador franco-português, consegue fazer uma paródia com algo de “cariz popular” sem no entanto ser “popularucha”. Soube brincar com todos os clichés com que os emigrantes são marcados e ao mesmo tempo fazer-nos reconhecer que muitos destes clichés, que sempre olhámos com uma certa vergonha, são afinal parte integrante da nossa identidade. Assim diante dos nossos olhos está o trabalhador árduo, submisso, com um sentido de família e de família alargada, tradicional, conservador, o “bom coração” disposto a ajudar a todos mas mostra também como a sociedade que o recebe – neste caso a França – os vê com um olhar exterior e sem ter uma noção profunda sobre a sociedade/cultura portuguesa (a troca de Salazar por Alcazar, as tulipas pelos cravos e de que talvez os portugueses gostem de… gaspacho!)

O filme funciona como um todo: argumento, escolha e direcção de actores, fotografia, cenários, montagem e música. Gostaria de destacar o trabalho de Rita Blanco que consegue construir muito bem o retrato da “mãe portuguesa” toda ela um universo de emoções: carinhosa, abnegada, prática, trabalhadora e com grande sentido de família.

O fado “Prece”, único fado que realmente vemos interpretar, reflecte o desejo escondido de muitos emigrantes e remete-nos para o cuidado com que foi feita a selecção musical: “Das mãos de Deus tudo aceito / Mas que eu morra em Portugal”.

Ainda a destacar o tema musical do filme, entregue a Rodrigo Leão, um compositor com uma carreira singular e riquíssima, ligado a alguns dos mais importantes momentos da cena musical portuguesa pós-1980 (Sétima Legião e Madredeus).

Parece-me curioso o título do filme dado para a distribuição alemã. Em vez de uma tradução literal de “A Gaiola Dourada” optar por “Portugal, Meu Amor”. Tenho um olhar muito crítico em relação às traduções ou escolha dos títulos dos filmes mas este parece-me, no entanto, melhor que o título original.

Espero que o público alemão se deixe levar pelos encantos da nossa cultura e que saia da sala de cinema com o desejo de aprofundar o seu conhecimento sobre Portugal.

 

“La cage dorée” / Portugal, mon amour (A Gaiola Dourada), 2013

Realização: Ruben Alves / Argumento: Ruben Alves, Hugo Gélin, Jean-André Yerles / Fotografia: André Szankowski / Montagem: Nassim Gordji Tehrani / Cenários: Maamar Ech-Cheikh, Paulo Routier / Música (tema): Rodrigo Leão / Interpretação: Rita Blanco (Maria Ribeiro), Joaquim de Almeida (José Ribeiro), Roland Giraud (Francis Cailaux), Chantal Lauby (Solange Cailaux), Barbara Cabrita (Paula Ribeiro), Lannick Gautry (Charles Cailaux), Maria Vieira (Rosa) / Produção: Zazi Films (França)

Texto: Teresa Prata

 

  

 
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Teresa Prata

Teresa Prata é realizadora e argumentista formada pela Deutsche Film und- Fernsehakademie Berlin (dffb). A sua longa-metragem “Terra Sonâmbula”, baseada no romance homónimo de Mia Couto, esteve em mais de 40 festivais de cinema e com distribuição tanto na Europa como nos EUA. Teresa vive e trabalha entre Lisboa e Berlim.

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