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Fieber Festival com participação de artistas lusófonas
Foto © Copyright Ana Correia
O Fieber Festival tem lugar entre os dias 5 e 8 de Outubro no Pfefferberg, Schönhauser Allee 176, e é um festival multidisciplinar (música, teatro, performance, dança, fotografia...) com curadoria focada em artistas latino-americanas residentes em Berlim.
O festival conta este ano com uma grande quota de artistas lusófonas, entre as quais Neide Alves, Iaci Kupalua, Kysy Fisher (BR), Marisa Benjamim ou Ana Correia (PT). A Berlinda é parceira do festival e falou com algumas das artistas que vão estar presentes com os seus trabalhos; da performance ao desenho, passando pela fotografia e música, há muito para ver e ouvir no Fieber Festival 2017!
Mais informações e programa completo no site do Fieber Festival.
KYSY FISCHER
Brasil - performance
És performer/atriz/bailarina. Foi o teu trabalho que te trouxe a Berlim e que te fez viver na cidade?
Sou atriz pela Faculdade de Artes do Paraná, mestre em Teatro pela Univeraidade do Estado de Santa Catarina e cursei Psicologia na Universidade Federal do Paraná. O que me trouxe a Berlim foi Berlim e meu esforço hoje é o de poder exercer minha profissão aqui, apesar de todas as dificuldades que só o Ausländer Behörde consegue nos impor.
Em que projetos estás a trabalhar neste momento?
Neste momento estou desenvolvendo diferentes projetos em Berlim e no Brasil (virtualmente), investigando principalmente a posição de interlocutora em processos criativos e a comicidade feminina.
Podes revelar ou pouco do que vai ser a tua participação no Fieber Festival?
No Fieber Festival apresento a performance FAQme, desenvolvida no programa de residências artísticas 20MINUTOS.MOV, na cidade de Curitiba, em 2017. FAQme é, ao mesmo tempo, uma palestra sobre psicanálise e um show de humor. Em FAQme, não deixo de perseguir a pergunta de como uma mulher produz humor através da sua sexualidade.
ANA CORREIA
Portugal - Fotografia
És formada em psicologia. Como descobriste a fotografia e porque decidiste dedicar-te a ela?
Eu descobri a fotografia quando tinha 14 anos após ver um documentário sobre Cuba. Nesse momento eu senti dentro de mim “é isto que eu quero fazer: viajar e fotografar”. Lembro-me de ser uma noite de Verão, de me levantar, e perguntar ao meu pai se me pagava uma viagem a Cuba para ir fotografar. A resposta foi não, mas “roubei-lhe” a câmara analógica e comecei a fotografar pequenas coisas: teias de aranha, gotas de água, o barbeiro da vila, a minha avó…Durante umas férias fiz um curso para aprender a trabalhar no quarto escuro e nesse momento eu sabia que era o que eu queria fazer. Eu necessitava uma forma de expressar-me dentro de um mundo académico rígido e no qual sentia que não encaixava e a fotografia relembrava-me de quem eu realmente era e do que realmente me fazia feliz.Mais tarde, durante o ano que vivi em Barcelona (2004), aprendi fotografia e lembro-me no último dia a minha professora me ter dito a gritar: “Ana, nunca deixes de fotografar!” E assim começou…
Depois de sair de Portugal, viveste em Espanha e Nicarágua. Como chegaste a Berlim em 2008 e porque decidiste viver nesta cidade? Foi a fotografia que te trouxe?
O meu curso foi o passaporte de entrada para esses países. Mas o que me trouxe a Berlim foi um estágio e intuição... Na verdade, eu tinha sido selecionada para a Suécia, mas consegui trocar de lugar com outra rapariga a quem lhe tinha saído Berlim. Eu decidi ficar porque Berlim era a cidade ideal para trabalhar em fotografia analógica que é maioritariamente o tipo de trabalho que faço. E foi a cidade que me permitiu realizar este sonho. Eu comecei com um estágio num dos maiores mestres da fotografia analógica na Alemanha, Jochen Rohner e acabei por ficar por 4 anos a trabalhar no quarto escuro e a fazer retoque manual. Só mais tarde quando aprendi o processo de revelação manual, comecei a fazer exposições individuais.
O que vamos poder ver do teu trabalho no Fieber Festival?
Este ano para o festival seleccionei 6 fotografias reveladas por mim de 6 países distintos. É uma amostra do que faço e como o tema deste ano é: “Quem sou eu?” a selecção que fiz revela quem eu sou, respondendo por isso à pergunta.
NEIDE ALVES
Brasil - percussão
Percussionista de profissão, é professora, dá workshops, aulas privadas e toca em diversos palcos pela cidade de Berlim. Na sua opinião, o que tem de especial a percussão?
A percussão é o coração da música, talvez seja a mais antiga forma de instrumento musical e está presente em qualquer lugar. É uma família de instrumentos sem fim com diferentes cores de som, diferentes técnicas e swings, com muitas possibilidades de criar e se reinventar. É acessível a todos sem diferença de classe, cor ou religião. Tocar percussão é dar alegria, bem estar, mas também requer disciplina e paciência pra conhecê-la mais a fundo. Além disso, ela tem uma força de reunir as pessoas de forma natural. Mais especial que isso é ... Viver tudo isso!
Pode desvendar-nos um pouco do que vai acontecer durante a sua performance no Fieber Festival juntamente com a artista Boliviana Sabina Velasco?
A performance “Tira a máscara” são fragmentos de histórias reais das duas artistas transformadas em música-percussão, canto e dança, com influências dos mais variados estilos e gêneros. Essas histórias têm como fonte de criação situações desagradáveis – como o medo e a insegurança, transformadas em alegria e coragem. Os sons, movimentos e instrumentos asseguram de onde viemos e onde estamos. É nada mais do que nós mesmos tentando mostrar quem somos e o que queremos: ser livre pra fazer o que gostamos e aceitar como somos!
MARISA BENJAMIM
Portugal - desenho
Trabalhas com diferentes meios - vídeo, fotografia, instalação ou performance - e vais buscar inspiração à natureza. De onde vem esse interesse e porque decidiste incorporá-lo no teu trabalho?
O facto de usar diferentes meios como o vídeo, fotografia, etc, tem a ver com a especificidade de cada projecto. E claro, sempre inspirada na natureza. Desde a infância colecciono folhas e flores em herbários, plantei árvores, batatas, couves, canas de açúcar, enfim, coisas de quem teve a oportunidade de crescer no campo. A minha inspiração vem dessa activação de memórias e desse equilíbrio natural entre o homem e a terra. É na natureza que eu vou buscar a tranquilidade e é de onde venho. E repito as mesmas palavras de Lourdes de Castro: “para onde vou levo o meu jardim comigo”.
Podes revelar um pouco do que vamos ver no Fieber Festival?
No Fieber Festival vou apresentar dois desenhos. Durante três anos fiz uma pesquisa intensa: A queda das folhas. Criei e divaguei sobre as possibilidades infinitas das várias quedas poéticas. As folhas e pétalas são lançadas ao papel, mas não através da transcrição literal e mimética dos detalhes, que conhecemos através da tradição botânica. As pétalas literalmente dissolvem-se dando à luz formas abstratas coloridas, que estão na fronteira entre desenhos e aguarelas. O papel de desenho absorve os fragmentos vegetais desmaterializados das plantas. Eles passam por um processo unidirecional de transformação e são metabolizados produzindo composições visuais imprevisíveis.
Artigo e entrevistas por Rita Guerreiro

Rita Guerreiro
Licenciada em Audiovisual e Multimedia pela ESCS – Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa), chegou a Berlim em 2010. Depois de ter participado em vários projectos de voluntariado e iniciado o Shortcutz Berlim, juntou-se à nova equipa Berlinda em 2016 e desde então contribui com vários artigos e entrevistas para o magazine.