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Entrevista a Diogo Costa Amarante - Juri Berlinale Shorts 2018

Foto: Diogo Costa Amarante com o prémio de melhor curta metragem na Berlinale 2017.Ali Ghandtschi © Berlinale 2017

Diogo Costa Amarante vem de uma cidade pequena, mas nem por isso deixou escapar o sonho de se tornar realizador. No ano passado esteve na ribalta ao ganhar o Urso de Ouro na Berlinale com a sua curta “Cidade Pequena”.

Mas o percurso profissional de Diogo Costa Amarante já deu várias voltas, tendo começado num escritório de advogados em Lisboa. É licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tem um Mestrado em Cinema Documental e uma pós-graduação em Cinematografia pela Escola Superior de Cinema e Audiovisuals de Catalunha (Barcelona) e estudou ainda Cinematografia e Produção Cinematográfica na New York University (onde realizou a curta “Cidade Pequena” em 2016).

Volta este ano a Berlim, mas desta feita como membro do júri das Berlinale Shorts, juntamente com Jyoti Mistry (África do Sul) e Mark Toscano (EUA).

A Berlinda esteve à conversa com o realizador português e ficou a saber um pouco mais sobre o percurso como cineasta de Diogo Costa Amarante, a sua opinião sobre o estado do cinema português, bem como as suas sugestões de filmes a não perder na edição deste ano da Berlinale.


 

Vamos começar pelo facto de este ano estares presente como decerto não imaginaste em 2009, quando participaste no Talent Campus na Berlinale… o que significa para ti seres membro do júri das Berlinale Shorts?

Ter o privilégio de poder ver várias curtas e discuti-las em conjunto com os outros membros do júri.

 

Na tua opinião, qual a importância de ter uma curta seleccionada na Berlinale? Abre portas? É uma espécie de teste? É bom networking…?

Ter uma curta na Berlinale é, por si só, meritório. Significa que um grupo de programadores, bastante experiente neste formato, reconheceu o seu mérito. Significa, portanto, que o filme poderá ser visto em confronto com um apanhado de outros filmes, dentre os mais representativos no que toca à discussão contemporânea de questões actuais, de visões autorais, de formas e formatos. Nesse sentido, apresentar trabalho num dos maiores eventos internacionais de cinema será sempre um óptimo ponto de partida para a vida de qualquer filme.

 

Considerando as várias curtas portuguesas presentes nos últimos anos na Berlinale (de nomes como João Salaviza, Leonor Teles, Gabriel Abrantes, Salomé Lamas, entre outros), poderá dizer-se que se está a viver um momentum? O que entendes que o sustenta/justifica? Perspectivas que possa vir a estender-se às longas metragens mais dia, menos dia?

O que sustenta esse crescendo de nomes, é existir em Portugal um ambiente favorável à liberdade criativa que permite aos realizadores expressar-se sem constrições, complexos ou templates. Existindo um ambiente favorável, ou seja ideias (luz), abertura à transformação (água) e apoios mínimos (oxigénio) é expectável que surjam múltiplas formas de vida ou até uma bomba de hidrogénio. Em relação à extensão do sucesso das curtas às longas metragens, isso só ocorrerá se houver decisão política que seja coerente com o sucesso que os novos realizadores portugueses têm alcançado internacionalmente. É pura aritmética: se houvesse mais apoio à produção de longas metragens, certamente teríamos neste momento mais longas portuguesas em competição em festivais internacionais de cinema. Quando tanto se fala do sucesso incontestável das curtas metragens portuguesas no circuito dos festivais internacionais de cinema, não deixa de ser surpreendente ou até contraditório que esse sucesso, tão celebrado pelos decisores nacionais, se traduza numa redução sistemática do apoio à produção de primeiras obras. Para se ter uma ideia, no ano passado apenas duas primeiras obras de longa metragem foram apoiadas pelo estado português, o que é manifestamente desproporcionado face ao número de novos realizadores que, apesar das provas dadas e do reconhecimento internacional, se vêem, por isso, limitados no que em qualquer parte do mundo seria o seu percurso natural.

 

Sabemos que a tua paixão inicial era a fotografia e que não estavas propriamente à-vontade com edição e montagem de vídeo… que outras coisas aprendeste entretanto e que consideras mais importantes no teu percurso como cineasta?

Entre o momento em que me aventurei no cinema até hoje, passei por dezenas de projectos em que trabalhei em diferentes qualidades. A aprendizagem maior que tive em relação ao meu percurso foi a de saber esperar.

 

Para aqueles que ainda estão indecisos; fazer escola de cinema é importante? Pode realmente fazer a diferença?

Só posso falar da minha experiência. No meu caso, fez toda a diferença. Não pela escola, nem pelos professores, mas pelo tempo e disponibilidade que tive para ver filmes e para trabalhar nas mais variadas funções técnicas noutros filmes. Não há melhor escola que essa.

 

Pouco depois de receberes o prémio pela curta “Cidade Pequena” no ano passado no Festival de Berlim mencionaste em entrevista para a Berlinda um novo projecto - “Migrar pelas Sombras”, a ser filmado em Portugal. Podes falar-nos um pouco mais sobre ele agora?

O guião está finalmente fechado e com outro titulo. Passa-se no Porto e será apresentado ao próximo concurso de apoio à produção de primeiras obras de longa metragem. Lida com a pergunta de fundo se os laços familiares de sangue, sendo dados como adquiridos, facilmente se transformam numa comédia de enganos.

 

Estiveste no Talent Campus em 2009, em 2014 trouxeste uma curta a Berlim pela primeira vez, “As Rosas Brancas”. Depois voltaste no ano passado para ganhar o Urso de Ouro com “Cidade Pequena” e este ano és membro do júri das Berlinale Shorts. O que podemos esperar para 2019?

De preferência que continue vivo e de boa saúde, com novos projectos encaminhados.

 

Tiveste um percurso bastante peculiar na Berlinale… e como jovem cineasta pode dizer-se que estás na “spot-light”. Em entrevista à Revista Sábado referiste que a tua família estava em choque quando decidiste deixar o teu “emprego num escritório XPTO” e ir estudar cinema para Barcelona em 2007. O que dizem eles agora, mais de 10 anos volvidos?

O choque passou e agora rimo-nos quando olhamos para a foto do meu passaporte antigo, onde estou de fato e gravata.

 

E para fechar; em termos de filmes, há algum/alguns (curta ou longa, qualquer secção do Festival) que estejas em pulgas para ver nesta edição da Berlinale?

Obviamente todas as curtas da competição oficial. As longas portuguesas no Forum e estou muito curioso para ver uma longa metragem Romena chamada “Touch me not” que está na competição oficial e que é a primeira longa de uma realizadora de cujas curtas gosto muito. Chama-se Adina Pintilie.

 

  

 
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Rita Guerreiro

Licenciada em Audiovisual e Multimedia pela ESCS – Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa), chegou a Berlim em 2010. Depois de ter participado em vários projectos de voluntariado e iniciado o Shortcutz Berlim, juntou-se à nova equipa Berlinda em 2016 e desde então contribui com vários artigos e entrevistas para o magazine. 

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