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Chico César - um músico com profundidade
Foto: Chico César. © Washington Possato
“O Brasil não está limitado a sol, praia e pouca roupa. Estou empenhado em que também seja visto como um país introspectivo porque também somos pessoas com profundidade e capazes de olhar para dentro“, Chico César
É já dia 20 de janeiro que Chico César volta à Alemanha para um espetáculo em Berlim, no Lido Berlin. O concerto conta com a participação especial de Dota, uma artista que apaixonou-se pela música brasileira ainda criança quando ouviu o cineasta Carlos Leite e sua esposa Aenne Bussmann cantarolarem enquanto faziam babysitting na Berlim dos anos 80. Depois, já adolescente, encantou-se com os músicos de rua no Equador que tocavam música brasileira. Rapidamente tornaria conhecida nos circuitos alternativos da Alemanha e de toda a Europa como “die Kleingeldprinzessin”(princesinha da gorgeta), uma cantora das ruas que também estudava medicina. Foi a medicina que trouxe Dorothea Kehr a Fortaleza para um trabalho de extensão. Mas a inquieta Dota logo se aproximou dos músicos locais, o que resultou num maior aprofundamento na relação com a música brasileira e num disco com o músico e compositor Danilo Guilherme. Dota é conhecida pelo seu canto suave e pelas suas letras cortantes.
História de vida
Francisco César Gonçalves, mais conhecido como Chico César, nasceu a 26 de janeiro de 1964, no município de Catolé do Rocha, interior de Paraíba.
Aos dezesseis anos, Chico César foi para a capital João Pessoa, onde se formou em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, ao mesmo tempo em que participava do grupo Jaguaribe Carne e fazia poesia de vanguarda.
Pouco depois, aos 21 anos, mudou-se para São Paulo. Trabalhando como jornalista e revisor de textos, aperfeiçoou-se em violão, multiplicou suas composições e começou a formar o seu público. A sua carreira artística tem repercussão internacional e maioria de suas canções são poesias de alto poder de encanto linguístico.
Em 1991, foi convidado para fazer uma tour pela Alemanha e o sucesso levou-o a deixar o jornalismo para se dedicar de corpo e alma à música. Depois formou a banda Cuscuz Clã (que seria o nome do seu segundo álbum), e passou a apresentar-se na casa noturna paulistana Blen Blen Club.
Em 1995 lançou o primeiro CD “Aos Vivos” (Velas), acústico e ao vivo, com participações de Lenine e o lendário Lany Gordin. Em 1996 veio o sucesso nacional e internacional através do segundo álbum, “Cuscuz Clã” (MZA/PolyGram), produzido por Marco Mazzola. No terceiro CD, “Beleza Mano”, mergulhou na cultura negra com participações do zairense Lokua Kanza, coral negro da Família Alcântara, os rappers Thaíde e DJ Hum, Paulo Moura, entre outros. “Mama Mundi” (2000) mostra a sua qualidade de intérprete num trabalho repleto de canções e referências ao som que se faz, tanto no interior do Brasil como em diversas partes do mundo.
Em junho de 2002 lançou o seu quinto CD, “Respeitem Meus Cabelos, Brancos”, que define como um trabalho nômade. Com produção assinada pelo inglês Will Mowat, o álbum começou a ser pré-produzido em Londres, onde registrou participações especialíssimas de Nina Miranda e Chris Franck, integrantes da banda Smoke City (hype na Europa que difunde por lá a New Bossa, versão mais moderna na velha e boa Bossa Nova). De lá, Chico e Mowatt foram para Recife registar o suingue de Naná Vasconcelos. Depois seguiram para Salvador em busca de Carlinhos Brown. Foi em João Pessoa, que registaram o som da Metalúrgica Filipéia e do Quinteto Brassil. Até que, finalmente chegaram a São Paulo, onde o CD foi concluído.
Em novembro de 2005, surge o sexto CD de sua carreira, ”De uns tempos pra cá”, pela editora Biscoito Fino. Com 12 faixas, este trabalho é composto por canções autorais compostas por Chico desde a década de 80, num formato camerístico com o Quinteto da Paraíba: dois violinos (Yerko Tabilo e Ronedilk Dantas), uma viola (Samuel Spinoza), um violoncelo (Raiff Dantas) e um baixo acústico (Xisto Medeiros). Um ano depois é publicado o DVD, Cantos e Encontros de uns tempos pra cá, gravado durante o espetáculo no Auditório do Ibirapuera.
Em 2008 surge “Francisco Forró y Frevo”, um mergulho do artista no espírito das duas principais festas populares nordestinas (o Carnaval e os festejos juninos), para criar um disco alegre em que o foco centra-se na força dos ritmos que animam estas festas (o frevo e o forró) e ainda no diálogo que esses ritmos têm naturalmente com “beats” universais (por exemplo, o xote com o reggae, o frevo e o arrasta-pé com o ska). No que se refere especificamente ao frevo, uma novidade: a junção da linguagem das orquestras de metais de Pernambuco com a guitarra baiana dos trios elétricos da Salvador dos anos 70, em que a folia estava sob o comando da clássica dupla Dodô e Osmar. Em 2012, o artista lança o DVD “Aos Vivos Agora”.
Depois de mais de 7 aos sem gravar, Chico César prepara-se para lançar, este ano, um álbum com músicas inéditas, produzido na sua terra natal e acompanhado por músicos paraibanos da nova geração. O artista foi um dos contemplados pelo Natura Musical, edital de patrocínio que, em 2015, completa dez anos. Ao lado de nomes como Gal Costa, Elza Soares, Emicida e Filipe Catto, entre outros, o músico paraibano terá o seu novo disco de inéditas e uma turnê de lançamento pagos pelo projeto.
Livros
Chico César lançou em 2005 o livro “Cantáteis – Cantos Elegíacos de Amizade” e em 2007 um áudiolivro com o mesmo nome. No CD, o cantor declama os versos do livro em que situa, na forma de poesia, as ténues fronteiras entre os sentimentos de amor e amizade. Cantáteis reúne 141 estrofes com 11 versos de sete sílabas, sendo que o autor estruturou os versos com o rigor formal dos cordéis. Para pontuar a declamação, o compositor criou uma base eletrônica inspirada na mistura das sonoridades do berimbau e da rudimentar cítara nordestina. Em 2012, publicou um novo livro, “Rio sou Francisco”.
Carreira internacional
Chico César realizou, desde 1997, inúmeras tours pelo mundo, apresentando-se em praticamente todos os países da Europa, Estados Unidos da América e Japão, além de lugares fora do circuito normal de shows como Cabo Verde, Finlândia e Turquia. Além disso, foi capa e assunto de diversas páginas de revistas internacionais como “Rhythm Magazine”(EUA) e “Jazzthetik”(Alemanha).
Como resultado destas viagens, surgiram parcerias e projetos especiais com artistas como os africanos Lokua Kanza e Ray Lema, o espanhol Pedro Guerra (com quem participou da gravação ao vivo de um DVD), e a portuguesa Né Ladeiras (que lançou em 2001 o CD “Minha Voz” com oito músicas do paraibano). Em 2003 foi lançado o CD “Drop the Debt”, em prol do cancelamento da dívida externa dos países do terceiro mundo. Chico César faz parte deste projeto e gravou a faixa “Devo não Nego”. As suas músicas foram gravadas em vários idiomas e países (por exemplo, a canção “À Primeira Vista”, recebeu versões em castelhano, italiano e japonês; “Clandestino” em grego e “Mama África” em espanhol), o que também prova a sua internacionalidade.
Prémios e distinções
Chico César foi Revelação do Prêmio Sharp/1995, Melhor Compositor pela APCA/1996, Prêmio MTV Music Awards como Melhor VideoClip de MPB/1996, para “Mama África”. “À Primeira Vista” ganhou o prémio de Melhor Música/1997 pelo Troféu Imprensa do SBT. A trilha que fez para o espetáculo infantil “Amídalas” recebeu o Prêmio Panamco (ex-Coca Cola) de Teatro Jovem, como melhor trilha/2000. A música “Soberana Rosa” (em inglês “She Walks this Earth”) que compôs juntamente com Ivan Lins e Victor Martins deu a Sting o Grammy 2001 de Melhor Performance Vocal Pop Masculina.
O gestor
Chico César foi convidado, em 2011, pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, para ser o primeiro secretário de cultura do estado. O seus desafios são estruturar a nova secretaria, criar uma política de cultura e incentivar a implementação do Sistema Nacional de Cultura. O primeiro convite para ser gestor surgiu através do mesmo Ricardo Coutinho, na época prefeito de João Pessoa, em 11 de maio de 2009. Chico assumiu a presidência da Funjope, Fundação Cultural de João Pessoa, entidade de direito público subordinada à Secretaria de Educação e Cultura do Município. Neste novo desafio, Chico se propôs-se a cumprir os objetivos da entidade: promover, incentivar, difundir e valorizar a cultura e as artes na cidade de João Pessoa, ser uma instituição de referência na execução de políticas públicas e fomentar e democratizar a participação e o acesso à cultura na sua diversidade, propiciando a formação cidadã através da inclusão social e do desenvolvimento do potencial criativo.
Fonte: Site oficial do artista; Press release Trinity Music
Chico César | Concerto Lido Berlin
Terça-feira, 20 de janeiro 2015, às 20h00
(abertura das portas: 19h00)
Lido Berlin
Cuvrystrasse 7
10997 Berlim