top of page

MAGAZINE

Os ritmos dos Bixiga 70 em Berlim I Entrevista

Bixiga 70 (c) Divulgacao.jpg

12/06/2014

Foto: © Bixiga 70 | Divulgação

Os Bixiga 70 são uma big band brasileira de afrobeat cujo nome está ligado ao endereço do estúdio onde o conjunto nasceu: o número 70 da rua Treze de Maio, em São Paulo. O primeiro álbum, homónimo, foi lançado em 2011 e o segundo, o mais recente, em 2013.

A banda atuará quinta-feira, dia 12 de junho, na Copa da Cultura 2.0 (Haus der Kulturen der Welt). Leia a entrevista que Daniel Gralha, trompetista dos Bixiga 70, deu à Berlinda.

 

BERLINDA: Lançaram um novo trabalho em setembro de 2013. Estão na fase de o explorar, certo? Ou já tem novos planos para o futuro da banda?
DANIEL GRALHA: Sim, sem dúvida estamos na fase de o explorar. Esse segundo álbum é fruto de todo aprendizado do qual fomos nos enriquecendo desde o lançamento do primeiro disco, entre shows pelo Brasil, tourné pela Europa, grandes festivais, e parcerias com outros artistas, tanto em estúdio como no palco. Isso nos levou a um maior amadurecimento evidenciado não só nas gravações como também no nosso novo show, que aprontamos pro lançamento do disco e que estamos aprimorando a cada apresentação. De qualquer forma, a banda está se sentindo cada vez mais confortável pra criar e muita ideia nova tem aparecido espontaneamente em ensaios e passagens de som. É bem possível que em breve nos reunamos em estúdio para registrar alguma coisa.

B: O vosso segundo trabalho, tal como o primeiro, não tem título. É para marcar a vossa “independência”?
DG: Esse segundo álbum é, para nós todos, uma nítida continuação do trabalho anterior e, assim como o primeiro, acabamos não sentido a necessidade de nomear. Na verdade até chegamos a cogitar isso mas não viemos a encontrar um nome que sintetizasse o disco, e todo aquele momento, tão bem como o próprio nome do grupo, reafirmando também assim a busca iniciada no primeiro disco: a construção da nossa identidade.

B: A vossa banda é originária de S. Paulo, cidade onde nasceram diversos artistas da área da música e não só. Na vossa perspetiva, esta cidade é um dos berços da arte?
DG: O Brasil é um país geograficamente muito grande e muito rico em diversidade cultural. Por diversos motivos a cidade de São Paulo é, em sua história, um dos principais destinos de migração desses diferentes “povos” que integram nossa nação, assim como também foi e ainda é um dos principais destinos de imigração de povos de outros cantos do mundo. A mistura é uma característica que o Brasil carrega em sua genese, e isso São Paulo tem de forma acentuada. Uma das consequências direta disso é uma arte também pluralizada, e muito original, ímpar. Analisando tudo o que tem acontecido nessa cidade não é exagero concluir que São Paulo passa agora por um momento muito fértil e histórico pra nossa cultura, se firmando sim, ainda mais, como um dos berços da arte brasileira.

B: Os Paulistas vão estar em grande na Copa da Cultura. Além da vossa banda, estarão presentes a Tulipa Ruiz e o Emicida. Acha que a cidade está bem representada?
DG: Sim, sem dúvida. Como dito anteriormente São Paulo passa por um ótimo momento, muito rico, e Tulipa e Emicida são dois grandes expoentes dessa cena – que inclusive tem como característica bem marcante uma grande interação entre os músicos, de forma que todos nós já tivemos o prazer de trabalhar junto a eles algumas vezes, e acredito que muito mais está por vir.

B: Muitos destes artistas atuam muitas vezes na Alemanha, e em Berlim em particular. Eventos como a Copa da Cultura são positivos para a divulgação da cultura brasileira?
DG: Amplamente positivos. A Copa do Mundo, assim como as Olimpíadas, é um evento de um alcance imenso, o mundo pára pra ver. Os olhos se voltam pro país anfitrião e isso acaba despertando muita curiosidade. Sem dúvida a Copa da Cultura 2014 será uma grande oportunidade de se conhecer um pouco mais do que o Brasil tem de melhor e estamos muito honrados em fazer parte dessa programação estando ao lado de uma seleção de artistas do primeiro escalão.

B: O que esperam desta passagem por Berlim?
DG: Essa será a nossa primeira visita e temos uma grande expectativa em virtude do que já conhecemos (alguns integrantes já estiveram na cidade) e de relatos que coletamos de amigos que já residiram ou estiveram de passagem. Ao que parece Berlim também passa por um momento cultural muito fértil e tem sido berço de muita coisa realmente boa. Passaremos alguns dias na cidade e queremos aproveitar da melhor maneira, conhecendo o quê, por quem, e como as coisas estão sendo feitas.

B: Gostam de futebol?
DG: A banda é dividida entre uma parte mais ligada aos esportes e outra menos. Os mais ligados aos esportes obviamente têm no futebol um dos principais motivos de conversa. Mas skate, natação e basquete também ganham atenção.

B: O futebol combina com música?
DG: Futebol, assim como outros esportes, sempre é assunto para diversos compositores. Alguns acertam na medida e conseguem bons resultados, se perpetuando na memória das pessoas junto a esse esporte tão querido pelo mundo fora. Na música brasileira temos ótimos exemplos disso.

B: Que final gostariam de ver (Brasil vs x)?
DG: Difícil responder por todos. Não é possível falar desse assunto sem deixar observado que uma parcela da banda gostaria de ver o Brasil desclassificado logo na fase de grupos. Mas como sou eu (Gralha) quem está respondendo direi que enfrentar o Uruguai pode ser uma grande final. Seria a chance de virarmos a página da tal tragédia de 1950, que é assunto até hoje. Mas uma final contra a França também seria muito especial pra nós, já que a minha geração assistiu a três derrotas pra eles em jogos de mata-mata.

B: Qual a vossa opinião sobre as várias manifestações contra a Copa (imprensa, ataques à Embaixada do Brasil em Berlim…)?
DG: Esse acredito ser o assunto mais complexo e o mais difícil de se escrever a respeito em poucas linhas. Mas, diferente da Copa, em relação a isso existe uma unanimidade na banda: todos somos a favor das manifestações. E não por sermos contra a Copa propriamente dita – pode parecer contraditório o meu discurso mas isso se dá pela complexidade do assunto – o fato é que enxergamos essas manifestações como sendo uma nítida continuidade do levante ocorrido a partir de maio / junho de 2013. E essa postura mais ativa é algo muito positivo pra nossa identidade brasileira, algo a muito tempo esperado pelas novas gerações. Há muito tempo não víamos reivindicações populares com tanta força. Ataques a embaixadas, agressões, vandalismo, isso já é outro assunto. Essa é uma questão mais delicada até porquê é de ciência de todos que alguns desses equívocos foram/são cometidos por pessoas infiltradas no intuito de deslegitimar as manisfestações. Muito da estratégia de ação do levante popular precisa ser melhorado, mas isso não diminui sua legitimidade.

Quinta-feira, 12 de junho 2014, às 20h
Haus der Kulturen der Welt
John- Foster-Dulles-Alle 10, 10557 Berlim

Entrada: 10€/8€

Entrevista realizada por Fabiana Bravo

Fabiana Bravo

Fabiana Bravo berlinda.jpg

Nasceu na ilha Terceira, Açores, em 1987. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Técnica e Mestre em Novos Media e Práticas Web pela Universidade Nova de Lisboa, vive e trabalha em Berlim desde maio de 2014.. 

bottom of page