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A ponte até Lenine
Foto: Esquerda - The Bridge © Arlindo Camacho. Direita - The Bridge (Lenine e Martin Fondse) © Tami Toledo
Lenine atua dia 26 de julho no Wassermusik – Lusofonia, em Berlim. Para trás estão 30 anos de carreira, “muitas histórias, muitas viagens e principalmente muitos amigos. E uma certeza: “o melhor estar por vir”, contou-nos.
Depois de lançar dez discos, dois projetos especiais e de contabilizar inúmeras participações em álbuns de outros artistas, além de trilhas sonoras para novelas, filmes, teatro, etc., é tempo de comemorar e reviver tudo isso.
“O ano passado foi completamente diferente, foi um amigo que me avisou sobre a conspiração das datas: não apenas 30 anos de “Baque Solto” (a minha estreia ao lado de Lula Queiroga, em 1983), mas também 20 anos de “Olho de Peixe”, que resultou de uma parceria com Marcos Suzano, em 1993. Isto além dos 15 anos, completados ano passado, de “O dia em que faremos contato”", explica.
“Eu olhei para trás, gostei do que vi e percebi que minha trajetória foi costurada por essa coletividade, todas as relações que estabeleci deixaram uma relação de afeto e de carinho. Tenho a impressão de que essa simultaneidade em vários nichos de trabalho tem me acompanhado a vida toda….”, conta.
Antes de ser cantor, Lenine assume-se como compositor, “e como compositor, sou infinitamente mais livre e mais capaz de produzir”. Apesar de todo o seu percurso, não tem dúvidas de que ainda tem “muito por fazer”: “Tenho alguns lugares no mundo que gostaria de tocar e ainda quero continuar fazendo tudo com relação a musica e ao meio ambiente”. Assim sendo, não é de estranhar que já esteja a começar “a pensar no próximo álbum”, como nos confessou. Os fãs agradecem.
As orquídeas
Mas não só de música vive Lenine. O artista brasileiro é um homem de muitas paixões. A das orquídeas é bem conhecida e surgiu de forma curiosa: “Eu tinha comprado um sítio em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e a primeira coisa que fiz foi mapear todas as ocorrências botânicas na área da minha nova propriedade, isso com o intuito de projetar um pomar. Para a minha sorte, percebi uma planta florida, muito estranha, com um formato que jamais tinha visto, a cinco metros de altura, agarrada a uma grande árvore. Peguei uma grande vara de madeira, consegui arrancá-la do galho, e de posse dela, vi quão especial era. A forma era completamente nova para mim, parecia um alienígena, fiquei maravilhado e, curioso que sou, corri atrás de descobrir que planta era aquela. Foi assim que comecei a minha coleção”.
Curiosamente, as viagens que faz em nome da música ajudam-no a fomentar este interesse, permitindo-lhe descobrir cada vez mais sobre esta espécie, levando-o a fazer “uma biblioteca com livros de taxonomia das orquídeas, que procuro por todo o planeta”.
Projetos socioambientais
Os problemas “socioambientais” também tocam Lenine que considera ser “impossível excluir o homem de todo o processo de eterna adaptação que ocorre no planeta. Somos parte fundamental de tudo isso”. As suas composições falam desses problemas e as suas convicções levam-no a apoiar grupos como SOS Mata Atlântica, WWF e Projeto Tamar. Mais recentemente, protagoniza Os encontros socioambientais com Lenine – música e sustentabilidade numa só nota. “Se acredito na música como ferramenta de transformação, foi natural imaginarmos um projeto cujo foco seria o “ser humano” por trás de cada projeto socioambiental espalhado por este país continental. Se meu trabalho pode dar um pouco de luz e voz a essas pessoas, porque não?”, explica.
A família
Todas estas paixões têm outra como suporte maior: “a família é minha base”. Pai de três filhos (João, Bruno e Bernardo), Lenine orgulha-se que estes sigam os seus passos na música. João é vocalista da banda Casuarina e Bruno já fez uma parceria com o pai. “Eles são os meus melhores críticos! Até por que não perdoam nada e são pessoas atentíssimas. Eles me municiam de muita informação, e como cada um tem uma idade, a amplitude é enorme, estou sempre ouvindo novos lances por causa deles”, assume.
The Bridge no Wassermusik
Lenine apresenta-se em Berlim para um concerto com a Martin Fondse Orquestra, formada por músicos de diferentes países da Europa, num encontro intitulado “The Bridge”. “Com arranjos do maestro holandês Martin, o repertório compreende um pouco de todos os meus trabalhos”, adianta.
O projeto está há um ano na estrada pela Europa, Brasil e USA e surgiu através de um amigo em comum: «Foi o diretor do festival Music Meeting na Holanda, que sugeriu um encontro. O Martin, de passagem pelo Rio, foi nos visitar. Depois de uma tarde de bate-papo éramos já “velhos amigos”». E quando lhe perguntamos porque combinam tão bem, Lenine é assertivo: “temos uma visão do mundo muito parecida, e acreditamos que música não precisa de adjetivos. Acredito muito na longevidade desta parceria”.
Curiosidade
Um dos marcos da relação histórica entre Brasil e Holanda é a ponte Maurício de Nassau, em Recife, uma réplica perfeita de uma ponte sobre o Amstel, em Amesterdão. Esta foi a deixa que inspirou o nome do projeto “The Bridge” (A Ponte) que coloca lado a lado, o artista brasileiro Lenine e a orquestra do maestro holandês Martin Fondse.
No dia 26 de julho, já sabe qual é a ponte que tem de atravessar…
Concerto de Lenine:
Sábado, 26 de junho de 2014, às 20h30
Haus der Kulturen der Welt


Fabiana Bravo
Nasceu na ilha Terceira, Açores, em 1987. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Técnica e Mestre em Novos Media e Práticas Web pela Universidade Nova de Lisboa, vive e trabalha em Berlim desde maio de 2014.