top of page

MAGAZINE

Cinco filmes a não perder na 69. Berlinale - Por Rui Tendinha

Past_Perfect_©_Jorge_Jácome.jpg

09/02/2019

Foto: "Past Perfect", Jorge Jácome. ©Jorge Jácome

O homem do site cinetendinha.pt deixa umas dicas para os que ainda estão indecisos sobre que filmes ir ver à 69. Berlinale. Cinco filmes para ver entre as várias secções do festival – das curtas à competição principal - pelo jornalista e crítico de cinema Rui Tendinha, um verdadeiro veterano do Festival de Cinema de Berlim que acompanha há mais de 20 anos.

“Senti que este ano houve uma recessão. A Berlinale está um bocadinho na ressaca do final do mandato do Dieter Kosslick e está a tentar perceber que tipo de inovação pode fazer ao nível dos grandes festivais”, adianta. Não obstante, ainda que a concorrência com outros festivais como Sundance e Cannes seja cada vez mais feroz, não faltam bons filmes para ver nesta 69. Berlinale. “É um festival que tem sempre lugar para filmes um bocadinho mais marginais e fora da caixa. E acho que este ano está a ser excelente para o cinema português”.

De facto, Portugal traz este ano uma mão cheia de filmes. Na curtas está “Past Perfect”, de Jorge Jácome, um “bicho-do-mato” segundo Tendinha. É a única curta portuguesa em competição no certame, num leque total de 24 curtas de 17 países diferentes. “Um verdadeiro deleite do cinema experimental, com ideias que vão beber ao teatro e às artes pop visuais. É uma instalação visual, não tem história, e gostei muito do filme”.

Nas longas, é de destacar primeiramente “A Portuguesa”, de Rita Azevedo Gomes (Forum), “um acto de resistência de um certo cinema erudito e museológico português que a realizadora recupera muito bem”. Considerada uma discípula de Manoel de Oliveira por muitos, segundo Tendinha o filme “tem coisas tão insurrectas e tão loucas que Oliveira nunca iria fazer no neoclassicismo”. O texto de Agustina Bessa-Luis é um ponto forte do filme, bem como a escolha dos actores “o texto é muito bom, ainda que tenha sido feito já na fase final da escritora. E gosto também muito dos actores, Clara (Riedenstein) e Marcello (Urgeghe), e a Ingrid (Caven), que é um filme à parte e dá ali uma certa modernidade de que gostei muito”. Como reparo mais negativo está a duração do filme “sentimos a longa duração e esse é um problema do filme. Mas os filmes da Rita não são perfeitos nem querem ser”, arremata.

“Serpentário”, de Carlos Conceição (Forum) é outro filme recomendado pelo crítico de cinema português. “É também uma abertura a um cinema exploratório e não narrativo, com uma ideia de paisagem filosofal. Aquela Angola a que o Carlos Conceição volta através da personagem do João Arrais é uma espécie de olhar para a sua infância que deixou em África. E também uma reflexão muito interessante sobre o colonialismo e a relação do homem branco com África. Está lá tudo, num filme que tem uns certos desvios para o pop e é também algo anarca”.

“Grâce a Dieu”, de François Ozon, faz parte da competição e é um dos mais aguardados este ano. “Um filme sobre pedofilia nos dias de hoje em França. O realizador tem muita coragem em fazer um filme sobre um processo que está agora em andamento, não é nada de cristalizado ainda. Ele está a fazer cinema dos nossos dias. É como se alguém agora por exemplo começasse a filmar o caso da Caixa Geral de Depósitos em Portugal. Ou seja, cinema imediato e directo, gosto muito disso”. O filme do realizador francês concorre ao Urso de Ouro e traz um tema delicado e actual ao festival. “Acho que o cinema tem essa função. Às vezes fala-se muito do passado, enquanto este filme fala do presente e sobre um tema muito forte, a pedofilia, mas com alguma classe e com a poética certa. É dos bilhetes mais quentes da Berlinale”.

A lista termina com nada mais nada menos que o filme de abertura do festival, “Kindness of strangers”, de Lone Scherfigs, um pouco mal-amado segundo Rui Tendinha, mas ainda assim uma obra que vale a pena ver. “O filme tem coragem de ser optimista e luminoso nos dias de hoje. Um filme sobre sem-abrigo e violência doméstica, mas que depois acaba por ser uma espécie de comédia de afectos, um conto de fadas em Nova Iorque onde os estranhos se conhecem e se apaixonam. É um elogio à solidariedade humana e tem uma classe e uma ternura feminina da realizadora, que é habitué aqui da Berlinale. Eu acompanhei a carreira dela aqui, e acho que é uma cineasta que tem uma teia de afectos muito nórdicos que se nota nos filmes. É daqueles filmes que num festival tão lúgubre e sempre tão sobre a miséria humana é refrescante encontrar”.

 

 

Rui Tendinha é crítico do Diário de Notícias, colaborador da revista UP e na SIC está como host permanente na SIC Mulher do espaço Sala de Cinema, na SIC Mulher. Mantém ainda uma colaboração no FamaShow e tem sido uma das caras da estação nos Óscares. Na rádio é o especialista de cinema da ANTENA 3, estando ainda ligado à programação do festival YMotion, em Famalicão. Cinetendinha.pt é o seu mais recente projecto dedicado à 7 arte, que é o ar que respira desde sempre.

Rita Guerreiro

Foto Rita.jpg

Licenciada em Audiovisual e Multimedia pela ESCS – Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa), chegou a Berlim em 2010. Depois de ter participado em vários projectos de voluntariado e iniciado o Shortcutz Berlim, juntou-se à nova equipa Berlinda em 2016 e é desde então editora do magazine, para o qual contribui com vários artigos e entrevistas. 

bottom of page